terça-feira, 15 de julho de 2008

Encontros e Desencontros...

“Estava sentada, lendo distraidamente o jornal daquele dia, não tivera tempo de lê-lo pela manhã e o fazia agora, na parte da tarde, num café no centro da cidade. Como tinha muito tempo até o próximo compromisso não poupou as leituras desnecessárias, leu até o caderno de esportes, mas, antes viu os filmes que estavam em cartazes e as peças teatrais gratuitas que seriam apresentadas no fim de semana. O horóscopo lhe era favorável, falava em aproveitar as oportunidades e um novo amor apareceria em sua vida. “Bláh!”. Há tempos estava descrente em romances, passara já do tempo em que se imaginava paixões arrebatadoras, sua cara incrédula ao ler as linhas do seu signo fizera a mulher que estava um pouco mais à sua frente, na mesa encostada na parede, rir. Pelo visto ela já lhe observava fazia algum tempo e não conseguiu conter o riso ao ver seu olhar blasé e o “bláh” que havia acabado de resmungar.
Indignada com o riso petulante da sua vizinha curiosa resolveu revidar a invasão de pensamentos e lhe fez uma cara carrancuda que demonstrava toda sua revolta e sua indisposição em fazer novas amizades. O que ela não esperava era que a mulher à sua frente não agüentou e riu ainda mais, até tentou colocar a mão na boca para não mostrar que sorria, mas a gargalhada foi mais alta.
Quando percebeu, viu que a mulher que rira de seus gestos levantava de sua mesa, foi um gesto calmo, mas, preciso. Ao levantar passou a mão nos cabelos, que eram compridos e escuros, olhou em sua direção e se aproximou. Olhando-a de cima, pois ela continuava sentada e incrédula, sorriu e inclinou-se até chegar ao seu ouvido sussurrando-lhe:
- Pelo visto a página de horóscopo não lhe foi favorável hoje, pude ver de longe que não ficaste feliz com o que viu. Porém, o seu rosto de insatisfação foi a coisa mais bela que poderia ter acontecido neste dia!
Totalmente sem reação pelo o que acabava de acontecer a única coisa que conseguiu dizer foi:
- Não acredito em horóscopos...
Inclinando-se ainda mais e tomando-lhe o jornal de suas mãos a vizinha lhe disse:
- Deixe-me ver! Que signo é? Huum.. peixes???
Enquanto lia, sua face ficou rente à dela, tocando-lhe rosto com rosto, e nisso pode sentir o perfume da vizinha curiosa... era um cheiro bom. E pelo que pode notar, sua pele era macia... Quando voltou a si, percebeu que desejava aquela estranha desconhecida que lia em voz alta o seu destino. “... e um novo amor aparecerá em sua vida” ...
- Mas isso é bom!
- É bom para quem acredita em amor!
- E você, não acredita???
- Não mais!
- Porquê?
Perguntou espantada olhando-a penetrantemente nos olhos... neste momento, já nem sabia mais se acreditava ou não em amor, não sabia mais quem era, seu nome, endereço... só sabia que os olhos de sua vizinha curiosa eram duas jaboticabas vivas, ternos... o que era mesmo amor???
Sorriu sem notar, lembrando dos versos daquele poema que dizia assim mais ou menos assim: “O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato”... Logo em seguida pensou em como seria doce os beijos daquela mulher inclinada em sua frente, olhando-a com cara de espanto.
Percebeu quanta bobagem passava em sua mente naquele instante e que vizinha curiosa e bela esperava ansiosamente sua resposta.
- Se eu te disser que a partir deste instante não acredito nem que eu existo você levaria à sério???
Meio constrangida a vizinha fez sinal com a cabeça que sim.
- É que depois que vi os olhos teus não sei mais de mim.”

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