segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Tempo...




Ainda chove e não apenas lá fora, aqui dentro também está úmido como uma residência de morcegos. Morfina ainda não usei, mas imagino a sensação, o "sentir nada". Hoje não sinto nada, absolutamnete nada.
Acabo de descobrir que minha identificação com o vaso solitário não se deu apenas por piedade, mas sim, por afinidade. Sinto a chuva molhar meus cabelos e chegar às minhas raízes, talvez eu brote em breve, pressinto. A janela está ali trancando a vida quente que outrora vivi, distânciando-me do que por algum tempo ainda desejei e hoje mato friamente sem piedade, na verdade com requintes de muita crueldade. Não quero que nada reste, por isso, esfaqueio, faço picadinho e espalho gasolina para logo em seguida atirar o fogo.
Hoje mais do que nunca desejo ficar do lado de fora, exposta ao vento, ao sol, à chuva, aos passáros, ao céu... à vida. Hoje meu fiel companheiro é o tempo. Por isso, rogo:

Tempo curandeiro,
bezedeiro,
macumbeiro

Tempo, ata-me!
estanque o sangue
que insiste em jorrar

Tempo, cale-me!
para que minhas palavras
não sejam distorcidas

Tempo, sacie-me!
para que não fique à mercê
de sofistas

Tempo, passe!
e abandone
o que ficou para trás...



"Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo..."

Caetano Veloso

2 comentários:

Pá Mariano disse...

clap, clap, clap!

DIZDIZENDO disse...

Paloma!!!
Cadê vc? Parou de blogar?
bj.