domingo, 16 de setembro de 2007

Egoísta a solução?

"Ah, pelo menos eu já entrara a tal ponto na natureza da barata que já não queria fazer nada por ela. Estava me libertando de minha moralidade, e isso era uma catástrofe sem fragor e sem tragédia.
A moralidade. Seria simplório pensar que o problema moral em relação aos outros consiste em agir como se deveria agir, e o problema moral consigo mesmo é conseguir sentir o que se deveria sentir? Sou moral à medida que faço o que devo, e sinto como deveria? De repente a questão moral me parecia não apenas esmagadora, como extremamente mesquinha. O problema moral, para que nos ajustássemos a ele, deveria ser simultaneamente menos exigente e maior. Pois como ideal é ao mesmo tempo pequeno e inatingível. Pequeno, se se atinge; inatingível, porque nem ao menos se atinge."

Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H.




Há tempos venho refletindo sobre o fazer o que se quer sem se preocupar com a conveniência ou não de seu gesto. Muitas vezes me vejo em situações em que eu não desejava fazer algo, e acabo fazendo ou por se conveniente ou por não querer magoar outrem. É nessa contradição que acabo me aborrecendo. Fazer o que não se quer é uma violência, é um abuso, e o pior é contra nós mesmos. Por outro lado, fazer o que queremos sem se preocupar com os outros, parece ser de um egoísmo sem tamanho, bem característico do individualismo extremado conseqüente do sistema capitalista. Como conviver com esse paradoxo?
É difícil. Tenho exercitado o meu "eu" mais egoísta, mais egocêntrico, visto que, nesses 22 anos de existência o meu lado altruísta prevaleceu sem eu me dar conta disso. Essa reflexão veio com a necessidade de se viver uma vida mais prazerosa. E da reflexão para o ato levou algum tempo. Confesso que hoje, com o meu olhar mais introspectivo, e com minha fidelidade aos meus desejos, estou muito mais satisfeita e bem mais feliz.


"Ser bom é estar em harmonia consigo mesmo. (...) A discordância está no sermos forçados a viver em harmonia com os outros. A nossa vida: eis o que importa. A vida dos nossos semelhantes... quem quiser dar-se ares de pedante ou de moralista, poderá julgá-los pelos seus critérios morais; mas a vida alheia não é da nossa conta. Além disso, o individualismo tem realmente a finalidade mais alta. "
Oscar Wilde - "O Retrato de Dorian Gray"

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